Por trás da Tela
Por Trás da Tela
A moça do sorriso largo e das fotos em lugares paradisíacos parecia ter a vida perfeita. Perfil organizado, frases de efeito, café na caneca estilosa, legenda em inglês. Quem visse, jurava: essa daí nasceu virada pra lua. Mas ninguém sabia que, por trás do filtro sépia e do feed bem editado, ela batalhava diariamente contra a ansiedade que quase a fez desistir de tudo.
Na outra ponta da timeline, tinha o sujeito das opiniões ácidas, sem foto no perfil, que só sabia criticar. “Mais um militante de sofá”, pensavam. Só que ninguém sabia que ele usava o sarcasmo como escudo, escondido atrás do anonimato porque ainda tinha medo de ser rejeitado como foi tantas vezes fora da internet.
E tem aquela senhora que só posta receitas e selfies com os netos, meio tremidas. Uns riem, acham exagero, acham “brega”. Não sabem que ela aprendeu a usar o celular sozinha, depois de perder o marido e se sentir sozinha demais. Suas postagens são cartas em garrafas jogadas no mar virtual — esperando que alguém, em algum lugar, responda.
Cada perfil conta uma história. Mas nenhuma delas pode ser resumida por curtidas, hashtags ou bio de 160 caracteres. A gente esquece que por trás de cada avatar existe alguém com passado, cicatrizes e silêncios.
Julgar um perfil é fácil. Difícil é enxergar a pessoa que existe além da tela.
Fim.
Vinícius Silvério Muniz da Silva
Poeta Jovem Barueri
06/06/2025 Sexta feira
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