A Estante de Madeira Negra
🔪 Introdução – A Biblioteca Silenciosa
No subsolo de uma biblioteca esquecida no centro velho da cidade, há uma sala sem número, trancada com duas correntes e um cadeado enferrujado.
Poucos sabem, mas ela foi lacrada há 47 anos, após o sumiço inexplicável de sete bibliotecários.
Um estagiário chamado Érico, curioso demais para seu próprio bem, encontrou a chave.
E lá dentro, encontrou a estante.
Feita de madeira negra, talhada à mão com símbolos que ninguém reconhece.
Nela, repousam nove livros sem título, cada um com capa de couro ressecado e marcas queimadas nas bordas.
📚 Livro 1 – "O Homem do Porão"
Ao abrir o primeiro livro, Érico lê sobre um homem que escutava passos vindos de seu porão todas as noites — mesmo morando sozinho.
No fim do relato, o homem decide descer armado com uma faca.
Mas encontra ele mesmo trancado lá dentro, gritando por socorro.
A última frase do livro é:
“Eu matei o intruso... mas agora ouço passos vindo lá de cima.”
No verso da última página, há uma foto em sépia:
Érico. De costas. Olhando para o porão da biblioteca.
📚 Livro 2 – "A Criança do Espelho"
O segundo livro conta a história de uma menina que brincava com uma "amiga imaginária" chamada Clara, que vivia no espelho do banheiro.
Com o tempo, Clara começa a responder sozinha. Depois, ela sai do espelho.
A última página é escrita com tinta borrada, como sangue diluído:
“Agora eu moro no espelho também. Venha brincar comigo.”
Quando Érico fecha o livro, o espelho da sala está com um par de mãos marcadas do lado de dentro.
📚 Livro 3 – "O Trem da Meia-Noite"
Relato de um homem que pega um trem para casa e percebe que ninguém se mexe. Os passageiros estão imóveis, com olhos costurados.
A voz no alto-falante anuncia:
“Próxima estação: Inferno. Passageiros vivos, permaneçam em seus assentos até a remoção.”
A última página traz uma lista de nomes.
O último nome: Érico A. Mendonça. Vagão 9. Assento 13A.
📚 Livro 4 – "O Quarto da Respiração"
Uma jovem se muda para um novo apartamento. O quarto de hóspedes parece normal... até que, todas as noites, ela ouve alguém respirando atrás da porta.
Ao abrir, nunca há ninguém.
Até o dia em que ela tranca a porta por dentro.
A última frase:
“A respiração parou. Agora sou eu quem respira ali.”
Érico sente uma lufada de ar quente atrás de si. Vira-se. Ninguém.
Mas a estante agora tem mais um livro.
📚 Livro 5 – "O Cemitério de Livros Vivos"
Este livro conta a história de uma estante que escreve suas vítimas.
Cada pessoa que abre um dos livros está, na verdade, lendo seu próprio final escrito antes de acontecer.
A história fala de um bibliotecário que leu cinco livros...
O nome dele: Érico.
E a última linha não é impressa. Está surgindo lentamente, letra por letra:
“Ele ainda está lendo... mas não por muito tempo.”
📚 Livro 6 – (sem título)
Ao tocar neste, o couro parece pulsar como pele viva.
Érico tenta não abrir. Mas o livro se abre sozinho.
Páginas em branco, exceto por um parágrafo no centro:
“Este livro ainda está em escrita. Depende de suas próximas escolhas.”
De repente, a porta da sala se fecha sozinha. Correntes deslizam e se trancam do lado de fora.
📚 Livro 7 – "Os Olhos da Estante"
Conta a história de um leitor que começa a ser observado pelos livros.
As lombadas agora têm olhos. Cada movimento seu é seguido. Se ele fecha os olhos, sente dedos virando sua cabeça.
A última frase é curta:
“Eles só atacam quando você para de ler.”
📚 Livro 8 – "O Último Queimado"
Este livro está carbonizado, quase ilegível. Mas há palavras riscadas com carvão:
“O último que leu até o fim tentou queimar a estante.
A estante queimou com ele.
Mas renasceu.
Sempre renasce.
Agora, é você.”
📚 Livro 9 – (não abre)
Não há como abri-lo. Está selado com garras de ferro e lacres de cera negra.
Mas o nome já está gravado na capa:
"Érico Mendonça – Última Leitura."
☠️ EPÍLOGO – O NOVO LIVRO
Dias depois, a estante reaparece na biblioteca pública de outra cidade.
Em perfeito estado.
O livro de Érico já está lá.
Lombada recém-impressa. Capa escura.
Um novo visitante curioso se aproxima...
E ouve, bem baixinho, vindos das lombadas:
“Estamos com fome.”
Vinicius Silvério Muniz da Silva
Poeta Jovem Barueri
12/06/2025 Quinta Feira
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