O Labirinto das Histórias
Ninguém se lembra exatamente de como chegou ali. Talvez um livro antigo, talvez um filme interrompido na madrugada. Mas a verdade é que Wox despertou em uma sala vazia, iluminada apenas por uma luz fria que vinha do teto sem lâmpada.
Havia uma porta à sua frente. Ao abri-la, encontrou uma floresta escura, onde o farfalhar das folhas parecia sussurrar seu nome. Ela correu, tropeçou em raízes vivas, ouviu risos de crianças que não estavam lá. Quando achou uma saída entre as árvores, encontrou um portão de ferro forjado.
Do outro lado: uma casa vitoriana, decadente. A porta abriu sozinha. Ecos de passos a seguiram por corredores que pareciam se rearranjar a cada curva. Um quadro na parede mostrava seu próprio rosto, mas com olhos vazios.
Tentou fugir pela janela. Saltou. Aterrissou em uma rua de paralelepípedos, sob chuva ácida, onde cada guarda-chuva escondia um vulto sem rosto. Correu por vielas que se estendiam infinitamente, até entrar num ônibus vazio. No banco de trás, uma senhora costurava bocas em bonecos humanos.
Pediu para descer. O motorista riu. A porta se abriu e ela foi arremessada para dentro de um hospital abandonado. Camas viradas, corredores com gritos longínquos, seringas flutuando no ar. Um espelho no final do corredor a chamou. Quando olhou, não viu seu reflexo — viu a si mesma acordando novamente na sala vazia.
Era o mesmo teto, a mesma luz fria.
Tentou a outra porta. Um orfanato. Depois, um trem em um túnel sem fim. Depois, um cemitério onde os túmulos se abriam lentamente, sussurrando: “volte”.
A cada tentativa de fuga, Wox apenas se deslocava para outro pesadelo. Era como se estivesse presa num livro de contos horríveis, e cada fim fosse o começo de uma nova história. Nenhuma morte era definitiva, nenhum alívio era real. Ela não era mais personagem nem leitora — era prisioneira.
E você, que lê isso agora, já parou pra pensar como veio parar aqui?
Porque talvez... essa seja só mais uma porta. E você acabou de abrir.
Continuação – O Labirinto das Histórias (Parte 2)
Você não percebeu de imediato. Talvez tenha sido o cheiro de mofo, ou o leve zunido que se instalou nos seus ouvidos assim que terminou a última frase. Mas havia algo errado. A luz da sua tela piscou. O ambiente ao seu redor ficou levemente mais escuro. E agora... o silêncio.
Você tenta sair da página. Clica. Nada acontece. A barra de rolagem escorre sozinha para baixo, como se alguém — ou algo — estivesse guiando seus olhos.
Mais palavras surgem.
"Agora é você que está aqui."
Um arrepio sobe pela sua nuca. Atrás de você, uma cadeira range. Mas você está sozinho. Ou estava.
A parede da sua casa desaparece. No lugar dela, uma biblioteca infinita. Estantes tão altas que tocam o céu negro. Cada livro sussurra seu conteúdo, em línguas que você nunca ouviu — e em uma que soa exatamente como sua voz.
Você pega um livro. A capa pulsa. Quando o abre, está lá. O nome Wox. A floresta. A casa vitoriana. O hospital. Tudo se repete. Mas no canto inferior da última página, agora há algo novo:
"Um novo leitor chegou."
O livro fecha com um baque seco. Uma figura encapuzada se aproxima, oferecendo outro volume. A capa está em branco. Mas ele fala, sem mover os lábios:
— Agora é sua vez de escrever a próxima história...
Você tenta fugir. Corre entre as prateleiras. Grita. Mas as vozes aumentam, cada uma contando um conto de terror diferente, e todas elas terminam com a mesma frase:
"Voltar é impossível. Avançar é cair mais fundo."
11/06/2025 - Quarta feira
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