A Reunião dos Sentimentos da Depressão
Crônica: A Reunião dos Sentimentos da Depressão
Na sala escura, reuniram-se os sentimentos. Silêncio pesava como chumbo.
Tristeza chegou primeiro, arrastando os pés, olhar baixo. Sentou-se num canto e suspirou fundo, sem vontade de falar.
Culpa veio logo atrás, olhando para todos com olhos severos. Apontava o dedo para si mesma e para os outros, dizendo que nada ali estava certo.
Medo entrou tremendo, olhando por sobre o ombro, desconfiado de cada som, certo de que algo terrível aconteceria a qualquer momento.
Solidão apareceu quieta, ninguém notou quando se sentou. Só se fez presente pela ausência dos outros ao seu redor.
Desânimo chegou bocejando, sem energia para discutir nada. Encostou-se na parede, dizendo que não adiantava tentar mudar.
Angústia batucava os dedos na mesa, inquieta, ansiosa, como se algo estivesse para explodir.
No centro, Silêncio comandava tudo. Ele não dizia palavra, mas sufocava as vozes, mantinha todos parados ali.
Lá fora, Esperança tentou bater à porta. Mas Culpa trancou a chave. Tristeza disse que não era bem-vinda. Medo se encolheu só de pensar nela. Solidão ignorou. Desânimo nem se mexeu.
A reunião seguiu sem fim. Parecia eterna. Ali dentro, o tempo não corria. Os sentimentos da depressão não sabiam como sair dali. Nem queriam tentar.
Parte 2
O ar estava pesado. Angústia se levantou de súbito:
— Não aguento mais isso! — gritou, mas ninguém respondeu.
Tristeza apenas chorava baixo. Culpa repetia:
— É tudo nossa culpa. Não merecemos sair daqui.
Medo tremia, pensando nos perigos lá fora. Solidão se encolhia ainda mais, adorando a escuridão.
Foi quando uma voz fraca ecoou pela fresta da porta. Era Esperança.
— Abre pra mim. Só quero conversar.
Culpa berrou:
— Não! Você não entende nada daqui!
Angústia parou. Tristeza enxugou os olhos. Medo olhou para a porta, desconfiado, mas curioso.
Esperança insistiu:
— Eu não quero mandar em vocês. Só quero ajudar a abrir a janela.
Desânimo murmurou:
— Janela pra quê? Nada vai mudar.
Esperança respondeu calmo:
— Pra ver que existe luz. Mesmo pouca. Mesmo longe.
Parte Final
Angústia respirou fundo.
— E se der errado? — perguntou.
Esperança disse:
— Tudo bem. A gente tenta de novo.
Tristeza se levantou devagar.
— Eu... posso querer isso. — falou com voz fraca.
Medo chegou perto da porta.
— E se lá fora for pior?
Esperança sussurrou:
— E se for melhor?
Solidão chorou baixinho.
— Não quero ficar sozinha mais.
Desânimo, cansado até de se render, suspirou:
— Vamos tentar.
A chave girou. A porta rangeu. Uma fresta de luz entrou.
Os sentimentos da depressão se entreolharam. Ainda estavam ali, mas já não pareciam tão fortes, tão donos do lugar.
Esperança entrou, sem expulsar ninguém, apenas iluminando os cantos escuros.
E assim, mesmo que devagar, a reunião terminou.
A crônica mostra a depressão como uma sala onde sentimentos como Tristeza, Culpa, Medo, Solidão, Desânimo e Angústia se reúnem e se fortalecem juntos. Eles mantêm tudo fechado, sem permitir mudanças. A entrada de Esperança simboliza o começo de transformação: não elimina os outros sentimentos, mas traz luz, diálogo e possibilidade de saída. A história ilustra como a depressão prende, mas também como é possível abrir espaço para melhora.
Vinicius Silvério Muniz da Silva
Poeta Jovem Barueri
27/06/2025 - Sexta Feira
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