O MUNDO SEGUNDO AS FIGURAS DE LINGUAGEM
Era uma segunda-feira como qualquer outra, até que a hipérbole passou por mim na calçada, exagerando como sempre. Disse que o calor estava tão insuportável que dava pra fritar um ovo no asfalto. A hipérbole nunca muda — dramática, intensa, sempre vestida de exagero dos pés à cabeça.
Mais adiante, encontrei a metáfora. Ela estava sentada no banco da praça, tranquila, transformando tudo ao redor em poesia. “A vida é um rio”, disse, enquanto deixava folhas secas escorrerem pelas mãos. Com ela, tudo é outra coisa: o tempo vira vento, o coração vira tambor, e o silêncio tem voz.
A ironia apareceu logo depois, com aquele sorrisinho torto. Falou que o trânsito estava “maravilhoso” e que acordar às seis da manhã “é um privilégio”. Sempre sarcástica, escondendo verdade em mentira e mentira em verdade. A ironia não precisa gritar, ela fere com classe.
Na padaria, a prosopopeia se sentou ao meu lado e me contou que o pão reclamava do calor do forno. Segundo ela, a manteiga chorava toda vez que era espalhada. Com sua voz imaginativa, ela dá vida ao que é mudo e coração ao que não sente.
É inegável o encantamento com suas narrativas.
Posteriormente, surgiu a antítese, confrontando o paradoxo acerca de sentido e contradição. Uma afirmava que luz e escuridão coexistem em harmonia, enquanto a outra contradizia que só faz sentido quando não faz. Eram como irmãs que sempre têm divergências, mas que não conseguem viver separadas.
No final do dia, notei: estamos imersos em figuras de linguagem. Elas estão nas cartas de amor, nos desentendimentos conjugais, nas notícias, nas canções e nos suspiros. Provocam risos, lágrimas, reflexões — às vezes tudo isso ao mesmo tempo. São elas que dão vida ao que poderia ser apenas um discurso. São a essência do que dizemos, mesmo quando não estamos falando.
Foi então que percebi: a linguagem não é apenas um meio de expressão. Trata-se de uma forma de sentir.
Poeta Jovem Barueri
Vinicius Silvério Muniz da Silva
29/05/2025 - Quinta-feira
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